No editorial da Review and Herald de 26 maio de 1977, levantou-se a questão: “Quem Traz Desastres, Deus ou Satanás?” São todos os desastres causados por um por outro? Que dizer daqueles cujas causas naturais são conhecidas? Podem ser atribuídos tanto a Deus como a Satanás? Poderia um desastre, ou fenômeno cuja causa natural seja conhecida, sempre constituir-se um sinal?
Um leitor, a quem se fez referência no citado editorial, diz: “Ele (um investigador intelectual) declarará que os furacões e tornados só ocorrem na região do Caribe; que os meteorologistas podem predizer com dias de antecedência quais as condições do tempo, antes do golpe, para que os cidadãos, em grupo, possam desafiar a ira de Deus ou as maldades de Satanás(?) preparando-se para o impacto; ele poderia afirmar que os terremotos ocorrem em falhas na superfície da Terra, conhecidas do homem; que estamos nos aproximando de um ponto em que poderão predizer com razoável exatidão quando os terremotos ocorrerão, e que, sabendo onde essas falhas estão, podem construir edifícios à prova de terremotos para suportarem os juízos de Deus ou a colheita de almas inadvertidas de Satanás (?)“.
Sem dúvida, muitos intelectuais, e alguns que não se consideram Intelectuais, têm pensado nos argumentos aqui apresentados. Não há uma simples explanação. Não há uma fórmula que possamos aplicar e daí poder, em cada caso, apontar com precisão a causa de um desastre. Se as marchas e contramarchas nos acontecimentos humanos são extremamente complexas, quanto mais complexas são as que estão atrás dos acontecimentos em que estão envolvidas forças espirituais.
Primeiramente, façamos a pergunta: Pode um evento, do qual se conhece a causa natural, ser um sinal? Durante décadas de sua história, os Adventistas do Sétimo Dia têm lidado com esse problema e, em geral, têm chegado à conclusão de que a pergunta pode ser respondida afirmativamente.
D. E. Robinson abordou o problema num artigo da Review de 24 de julho de 1913. Estava respondendo a uma pergunta que os opositores dos ensinos dos adventistas do sétimo dia sobre as profecias às vezes faziam: “Por que os sinais no Sol, na Lua, e nas estrelas, preditos por nosso Salvador, só foram vistos pelos habitantes dos Estados Unidos?”
Em sua resposta, o Pastor Robinson apresentou evidências históricas de dias escuros além do Dia Escuro de 1780, mencionando um na Europa em 1783, no Canadá em 1785, e na França em 1867. Então acrescentou: “Já que esses dias escuros ocorreram no tempo especificado pela profecia, precisamos nós argumentar que eles eram sobrenaturais?
Depois de discutir várias causas apresentadas para a escuridão de 1783 na Europa, tais como a de que fora ocasionada pela poeira vulcânica do Monte Hecla (na Islândia), ou os terremotos na Calábria, ou por ter a Terra entrado na cauda de um cometa, chegou ele à seguinte conclusão: “Só podemos concluir que, qualquer que tenha sido a causa, sobrenatural ou natural, esses dias escuros foram, como as grandes trevas que rodeavam o Egito, uma manifestação prevista e divinamente predita”.
Acrescenta: “Pode-se chegar à mesma conclusão quanto à queda das estrelas, que foi o próximo sinal predito por Cristo depois do escurecimento do Sol e da Lua”. Para reforçar seu ponto de vista, menciona a chuva de estrelas em outros anos, além de 1833, tais como: uma em 1799 e outra em 1832. Essas, achava ele, de maneira alguma diminuíam a força dos sinais de Jesus.
Muitos anos antes, Uriah Smith respondera igualmente às objeções que os críticos faziam contra a interpretação adventista dos sinais nos céus mencionados em 5. Mat.24.
Referiu-se a um culto de pregação adventista, no fim do qual “um médico incrédulo se levantou e explicou como foi que as estrelas caíram naquele tempo. Disse que isso ocorrera de acordo com a Natureza, e, conseqüentemente, nada havia de extraordinário. Um ministro batista que estava presente, respondeu: Amém. Disse que isso estava certo, e que se a queda das estrelas em 1833 era cumprimento de S. Mat. 24, então ela se havia cumprido muitíssimas vezes desde sua predição, com a queda de meteoros”. — Review and Heraid, 29 de janeiro de 1861.
Tempo dos Sinais Celestes
Respondendo às objeções, disse o Pastor Smith: “Tenta-se colocar o escurecimento do Sol em 1780 da mesma maneira. Diz-se: Isso não pode constituir-se um sinal do fim, porque muitos eventos assim têm sucedido em diferentes épocas, no mundo. Mas o fato de o escurecimento estar ligado com acontecimentos especiais, desarma completamente os nossos oponentes. ‘Logo depois da aflição daqueles dias’ (os 1260 anos da perseguição papal), ou como outro evangelista disse: ‘Naqueles dias, depois daquela tribulação’, o Sol se escurecerá, etc. A tribulação foi abreviada pelo aparecimento da Reforma; chegou o tempo para a realização daquela predição e ela se cumpriu.
“Ora, não importa se o Sol escureceu mil vezes em épocas passadas do mundo, aquele escurecimento que se devia constituir um sinal do fim estava para acontecer naquele tempo, e aí aconteceu; e sendo expressamente predito como um sinal do fim, nenhum sofisma pode modificá-lo. O mesmo se dá com a queda das estrelas. O fenômeno de novembro de 1833 foi o mais notável dessa espécie registrado. Foi predito em ligação com o escurecimento do Sol e da Lua.
E assim temos a exata seqüência nessa grande série de acontecimentos, pelos quais a própria Natureza parece, por assim dizer, ter sido designada para proclamar à humanidade a próxima restituição de todas as coisas. Incrédulos e professores podem dar as mãos para explicar essas coisas de outra maneira; podem os escarnecedores zombar de nossa esperança, mas o dia glorioso está chegando, a redenção perto está. Tremam os pecadores; regozijem-se os santos”. — Ibidem.
Num sermão, uma testemunha ocular do Dia Escuro tornou claro que não considerava que atribuir causas naturais a um fenômeno Invalidava-o como sinal: “Talvez alguns, dando-lhe uma causa natural, atribuindo-o a um denso vapor no ar, se esforcem por tirar a força de ser ele um sinal, mas a mesma objeção existirá contra os terremotos serem sinais, que o nosso Senhor expressamente menciona como tais. Da minha parte, realmente considero a escuridão como um dos prodígios preditos no texto; destinados para a nossa admoestação e advertência”. — Sermão de Elam Potter sobre o “Dia Escuro”, pronunciado a 28 de maio de 1780 em Enfield, Conn, citado por W. Barber no The Advent Heraid, de 13 de março de 1844, p. 46. Ver SDA Bible Students’ Source Book, p. 317.
Se Deus quiser visitar com juízo, por que seria Ele proibido de servir-se de meios naturais? Quando Ele abriu um caminho pelo Mar Vermelho para os israelitas atravessarem, diz o relato: “E o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite, e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas” (Êxo. 14:21). Por que usou um vento oriental? Ter Deus empregado um vento diminuiu o milagre da travessia?
É verdade que os furacões podem ser localizados e seus cursos seguidos. Mas ainda não se sabe tudo quanto ao que os produz. Também, seu curso é, freqüentemente, errático e não pode ser predito com exatidão. Não vemos nenhum problema em forças naturais engatilharem uma formação em lugares escolhidos, uma vez que as condições metereológicas estejam certas, para trazer desastre sobre uma área predeterminada. Nem vemos problema em forças sobrenaturais operarem, com as condições meteorológicas, para dirigir furacões a seu determinado destino. Em tais acontecimentos, o observador poderia estar bem desapercebido de que forças naturais nisso estavam envolvidas.
De fato, os aspectos sobrenaturais dos acontecimentos freqüentemente não podem ser abertamente notados. É necessário que a Palavra de Deus desvende o que está ocorrendo atrás dos bastidores. Isso também se dá com os acontecimentos humanos. A esse respeito, Ellen White diz: “Nos anais da história humana o crescimento das nações, o levantamento e queda de impérios, aparecem como dependendo da vontade e façanhas do homem. O desenvolver dos acontecimentos em grande parte parece determinar-se por seu poder, ambição ou capricho. Na palavra de Deus, porém, afasta-se a cortina, e contemplamos ao fundo, em cima, e em toda a marcha e contramarcha dos interesses, poderio e paixões humanas, a força de um Ser todo-misericordioso, a executar, silenciosamente, pacientemente, os conselhos de Sua própria vontade”. — Educação, p. 173.
Haverá algum problema no pensamento de que alguém se poderia proteger de um terremoto que Deus pudesse mandar como juízo, construindo para si mesmo um abrigo contra terremotos? (Que os terremotos figuram entre os juízos de Deus, mostra a seguinte declaração citada em editorial anterior: “Já os juízos de Deus se manifestam na Terra, em forma de terremotos”. — Test. Seletos, vol. 2, p. 31.) Nós não vemos problema. De fato, um dos objetivos dos juízos de Deus é advertir os habitantes da Terra quanto a uma crise vindoura, na esperança de que eles busquem a salvação em Deus. Ele poderia permitir que a vida do construtor do abrigo fosse poupada para lhe dar mais oportunidade para o arrependimento.
Repetimos novamente que, quanto pergunta: Quem traz desastre, Deus ou Satanás; ou são eles simplesmente a operação de leis naturais? não há uma resposta simples. O homem secular que não crê no sobrenatural atribui todos os desastres a causas naturais. Os adventistas do Sétimo Dia, que crêem no sobrenatural e que fundamentam sua fé na Bíblia como sendo a autêntica revelação de um Deus transcendente, sabem que tanto Deus como Satanás trazem desastres, e que também as calamidades podem ter causas naturais. Em qualquer um dos exemplos dados, pode não ser possível identificar a causa. Geralmente Deus permite que as leis naturais operem, Por esse motivo é que os cientistas podem aprender essas leis e, assim, predizer o resultado de várias espécies de circunstâncias no mundo natural. Mas Deus não é limitado pelas leis naturais, pelo menos pelas leis naturais como os cientistas as definem. A Bíblia prediz que, em ligação com os acontecimentos do fim, a Natureza agirá de maneira bem fora do comum. Por exemplo, com relação aos sinais celestes mencionados em S. Mat. 24:29, é dito que “as potências dos céus serão abaladas”.
Ellen White define as potências dos céus como sendo “o Sol, a Lua, e as estrelas”. — Primeiros Escritos, p. 41. Ela diz: “O Sol, a Lua, e as estrelas se moverão em seus lugares”. — Ibidem. Também diz:
“À meia-noite Deus manifesta Seu poder. .. O Sol aparece resplandecendo em sua força”. — O Grande Conflito, p. 634.
De fato, segundo S. Lucas, será especialmente a Natureza fora de seu curso que encherá de indescritível terror o coração dos habitantes da Terra.
“Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo. Porquanto as virtudes do céu serão abaladas”. S. Lucas 21:26.
Freqüentemente é este verso interpretado como se ele se referisse ao temor de guerra e de outras calamidades comumente conhecidas dos seres humanos, mas o motivo do temor é aqui claramente identificado como não saber o que vem em seguida, porque a Natureza está toda desordenada.
Assim, enquanto hoje, sem a revelação divina, pode ser impossível distinguir os desastres que vêm de causas naturais dos que são produzidos por forças sobrenaturais, virá o tempo em que tanto Deus como Satanás operarão de maneira maravilhosa, quando o grande conflito alcançar o seu clímax. É importante reconhecer esse fato para que a pessoa possa avaliar corretamente o que está acontecendo e assim colocar-se no lado certo do conflito, o que decidirá a felicidade ou a infelicidade da vida por toda a eternidade.
Fonte: Sétimo Dia