Os Estados árabes que estão apenas a poucos quilômetros do Golfo do Irã estão observando, tensos, as perspectivas de uma guerra entre Teerã e o Ocidente, um conflito que nenhum deles deseja e que todos sabem que poderá arruinar suas economias. Esse temor real está levando os Estados ricos em petróleo a aumentar suas defesas enquanto esperam que a diplomacia possa prevalecer nas ambições regionais de Teerã e colocar um fim a seu preocupante programa nuclear.
"Nenhum Estado do Golfo quer a guerra, mas todos estão se preparando para a possibilidade que isso possa acontecer", afirmou o analista militar Riad Kahwaji. A tensão aumenta enquanto o Ocidente continua pressionando Teerã sobre seu programa nuclear e a União Europeia ameaça uma proibição total das importações de petróleo iraniano.
O Irã ameaçou fechar o estratégico Estreito do Ormuz - que liga o Golfo ao Mar Arábico e por onde passam 20% do petróleo mundial transportado pelo mar - se as vendas de petróleo forem bloqueadas. Os Estados Unidos, cuja Quinta Frota da marinha está baseada no Estado do Golfo de Bahrein, que está presente militarmente em um certo número de outros países, o que levou Teerã a dizer que não vai tolerar qualquer movimento.
Esses leais aliados de Washington serão empurrados para uma guerra com o Irã se Teerã os atacar, explica Kahwaji, que dirige o Instituto para o Oriente Médio e Análise Militar do Golfo (Inegma) com sede em Dubai. "O relógio está correndo e nós no Golfo não temos controle sobre isso", acrescentou o analista político kuwaitiano Sami al-Faraj em relação a um possível ataque israelense e americano contra o Irã.
Muitas vezes no passado, o Irã alertou que atacaria as instalações militares americanas nos Estados do Golfo Árabe no caso de guerra. Além da Quinta Frota, Qatar hospeda o Comando Central dos EUA, há cerca de 23 mil tropas americanas no Kuwait e cerca de 2 mil tropas militares dos EUA nos Emirados Árabes Unidos.
O site Mashreq, alinhado com as Guardas Revolucionárias do Irã, disse que os alvos no Golfo já foram escolhidos, de acordo com o jornal pan-árabe Al-Hayat. O primeiro-ministro catariano, o xeque Hamad bin Jassem Al-Thani, cujo país tentou, no passado, reduzir as lacunas entre Teerã e as nações do Golfo, disse que estas devem contribuir para resolver a crise.
"Eu acredito que todos nós temos um interesse em que não haja conflitos no Golfo", disse ele recentemente, acrescentando que os Estados do Golfo estão "naturalmente preocupados" com o aumento da tensão EUA-Irã. "Já vivemos conflitos militares e todos nós sabemos que não há vencedor nesses conflitos, especialmente para os países ao redor do Golfo", disse ele.
Além das ameaças externas, os Estados do Golfo têm que lidar com a ameaça das famosas células adormecidas que, suspeita-se, o Irã está espalhando pela região. "Ouvimos falar em medidas preventivas em muitos países para lidar das células adormecidas do Irã", disse Kahwaji. O desejo de evitar a guerra está acompanhado de outro, de conter a influência regional do Irã.
"Há agora duas posições no Golfo", disse Faraj. "Uma rejeita completamente recorrer à guerra a menos que seja imposta". "A segunda vê a necessidade de conter a interferência iraniana na Síria, Iraque, Líbano, Iêmen e Sudão e está ventilando a tensão sectária (no Golfo), apesar de não necessariamente através dos conflitos armados".
A segunda corrente tem se "tornado mais forte" recentemente, acrescentou. Faraj disse: "são os países do Golfo que sofrerão mais porque estamos ao alcance dos foguetes iranianos", observando, junto com Kahwaji que eles têm instalações de petróleo estratégicas e centros financeiros e de negócios em suas costas, próximas ao Irã.
O maior terminal petrolífero da Arábia Saudita de Ras Tanura, por exemplo, em apenas 180 km distantes da costa do Irã. Abu Dhabi, outro importante produtor de petróleo está longe apenas 220 km. Enquanto esperam, os Estados do Golfo estão aumentando as compras de material de defesa.
No mês passado, a Arábia Saudita assinou um acordo avaliado em US$ 29,4 bilhões para comprar 84 caças americanos F-15 e aprimorar outros 70 caças. Pouco depois, um acordo de armamento de US$ 3,48 bilhões dos Emirados Árabes veio à tona, incluindo o avançado antimíssil Terminal High Altitude Area Defense System (Thaad).
Em 2011, os Estados Unidos e a Arábia Saudita anunciaram um acordo de US$ 1,7 bilhão para reforçar as baterias de mísseis Patriot, enquanto o Kuwait comprou 209 mísseis por US$ 900 milhões.
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